quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Eu queria ser o Mar de altivo porte


Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…

Florbela Espanca - Livro de Mágoas

1 comentário:

  1. Também eu gostaria de ser Mar, por momentos... gostaria de guardar num copo um pedacinho do Mar, para a ele recorrer sempre que precisasse de inspiração, de tranquilidade, de reflexão...
    Queria poder caminhar à beira mar sempre que sinto necessidade... Mas quantas vezes me limito a fazê-lo no silêncio da imaginação, face à impossibilidade de estar lá nesse momento. E as lágrimas rolam, tristes e amargas. Pensativas. Pesadas. Os dias somam-se, longos.
    Alguém me disse que "mais vale um pé partido e um sorriso nos lábios do que os dois pés no chão e o medo de saltar".
    Saltei. Precisei dos conselhos do Mar. Cheguei a sonhar. E, na ausência da maresia fresca, decidi saltar...
    E agora, além de não ver o Mar, também não vejo o Sol, nem o Céu em sorrisos rasgado.
    Diz-se que o tempo responde a tudo...

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Sissi